Livro Dendrometria e Inventário Florestal
Carlos Pedro Boechat Soares; Francisco de Paula Neto; Agostinho Lopes de Souza
INVENTÁRIO FLORESTAL
1. Conceitos
A importância da madeira para o homem, como produto direto e de outros bens indiretos, acentua a necessidade de procedimentos eficientes para quantificar e avaliar os povoamentos florestais.
Entre as técnicas de estimação da produção florestal, destaca-se o inventário florestal, o qual pode ser realizado sob diferentes níveis de detalhamento e em diferentes pontos no tempo.
De acordo com Husch et al. (2003), os inventários florestais “são procedimentos para obter informações sobre quantidades e qualidades dos recursos florestais e de muitas características das áreas sobre as quais as árvores estão crescendo”.
Embora existam inúmeros procedimentos, um inventário florestal completo pode fornecer diversas informações, entre elas:
a. Estimativas de área.
b. Descrição da topografia.
c. Mapeamento da propriedade.
d. Descrição de acessos (estradas, rios, ...).
e. Facilidade de transporte de madeira.
f. Estimativas da quantidade e da qualidade de diferentes recursos florestais.
g. Estimativas de crescimento (se o inventário for realizado mais de uma vez).
Informações adicionais sobre fauna, recursos hídricos, entre outras, podem ser coletadas, quando necessárias. A ênfase sobre determinado elemento no inventário florestal será maior ou menor, em função dos seus objetivos.
2. Planejamento do inventário florestal
Um passo importante na elaboração de um procedimento de inventário é o desenvolvimento de um plano de execução compreensível antes do início dos trabalhos, ou seja, de um bom planejamento das atividades do inventário.
O seguinte checklist, adaptado de Husch et al. (2003), inclui todos, ou quase todos, os itens que devem ser considerados no planejamento de um inventário florestal por amostragem. No entanto, cabe salientar que os itens abaixo nem sempre têm a mesma importância ou são todos necessários nos inventários florestais:
1. Objetivos do inventário
2. Informações iniciais
a. Mapas, fotografias aéreas e levantamentos passados.
b. Indivíduos ou organização do suporte do inventário.
c. Disponibilidade de recursos.
3. Descrição da área
a. Localização.
b. Tamanho (hectares).
c. Facilidade de transporte, acesso e topografia.
d. Características gerais das florestas.
4. Definição do desenho de amostragem
a. Determinação da área coberta por floresta (por meio de imagens, fotos e medições em campo).
b. Definição da variável de interesse: peso ou volume; e unidades: m3, kg, st, ...
c. Tamanho e forma das unidades amostrais.
d. Método de seleção e distribuição das unidades de amostra.
e. Precisão requerida no inventário (erro admissível).
f. Nível de probabilidade.
g. Tamanho da amostra para satisfazer a precisão requerida (inventário piloto).
h. Tempo e custo para as fases do trabalho de campo (alocação de parcelas, determinação da área, ...).
5. Procedimentos para o trabalho de campo
a. Equipes de trabalho (número de equipes e de pessoas por equipe).
b. Suporte logístico e de transporte.
c. Procedimento de locação e marcação das unidades amostrais.
d. Procedimentos para obtenção das informações quantitativas (DAP, altura, ...) e qualitativas.
e. Instrumentos e equipamentos.
f. Planilhas e fichas para anotação dos dados e informações.
g. Controle de qualidade (verificação de erros).
h. Fatores de conversão dos dados (CAP para DAP, ...).
6. Compilação e procedimentos de cálculo
a. Conversão das variáveis de campo para expressões de quantidades desejáveis (equações, fatores).
b. Cálculo do erro de amostragem.
c. Métodos a serem utilizados (programas, computadores).
7. Relatório final
a. Formato.
b. Pessoal responsável pela preparação.
c. Método de reprodução (xerox, impressora).
d. Número de cópias.
e. Distribuição.
f. Informações requeridas no relatório final.
f.1. Tabelas e gráficos.
f.2. Mapas e mosaicos.
f.3. Relatório descritivo (narrativo).
g. Estimativa de tempo para o preparo.
8. Manutenção
a. Estocagem dos dados.
b. Planos para a atualização do inventário.
9. Tempo e custo total (mapeamento, trabalho de campo, compilação, relatório final e estocagem dos dados).
3. Tipos de inventário florestal
Existem vários tipos de inventário, os quais são normalmente definidos pelo seu objetivo. Entre os mais comuns, citam-se:
a) Inventário pré-corte: realizado antes da exploração, com alta intensidade amostral.
b) Inventário florestal convencional: realizado para obtenção do estoque de volume de madeira.
c) Inventário florestal contínuo: realizado com o objetivo de verificar as mudanças ocorridas em uma floresta, em determinado período de tempo.
d) Inventário para planos de manejo: realizado com alto grau de detalhamento, chegando às estimativas por classe de diâmetro, por espécie.
e) Inventário de sobrevivência: realizado após o plantio, com o objetivo de verificar o porcentual de falhas/sobrevivência das mudas no campo.
A literatura apresenta-se, ainda, muito diversificada quanto à classificação dos inventários. De forma genérica, os inventários florestais também podem ser assim classificados:
a. Quanto à forma de coleta de dados
a.1) Enumeração ou censo: todos os indivíduos são observados e medidos. Nos inventários (completos ou 100%), obtêm-se os verdadeiros valores dos parâmetros da população.
a.2) Amostragem: constituem a maioria dos inventários realizados em todo o mundo. Nesses inventários, observa-se parte da população, obtendo estimativas dos seus parâmetros. A amostragem permite obter estimativas precisas e exatas de diferentes parâmetros populacionais em menor tempo e custo, caso a floresta possua extensa área.
b. Quanto à abordagem da população no tempo
b.1) Inventários temporários: é realizado apenas uma vez. A estrutura da amostragem é abandonada. Ex.: inventário pré-corte.
b.2) Inventários contínuos: este é realizado várias vezes. Nesse caso, a estrutura da amostragem é materializada de forma mais duradoura, para poder medir novamente os mesmos elementos (árvores) ao longo do tempo.
c. Quanto ao detalhamento
c.1) Inventário exploratório: a coleta de dados, neste caso, é mínima, uma vez que o inventário é realizado para avaliar a cobertura florestal (tipos) e a extensão das áreas.
c.2) Inventário de reconhecimento: o principal objetivo desse inventário é determinar a composição florística e o potencial madeireiro da floresta, sem o controle da precisão.
c.3) Inventário detalhado: as informações são obtidas com precisão até o nível de classe diamétrica.
4. Referência Bibliográfica
HUSCH, B.; MILLER,C.I; KERSHAW, J. Forest mensuration. 4. ed. New Jersey: John Willey e Sons, Inc, 2003. 443 p.