Livro Dendrometria e Inventário Florestal
Carlos Pedro Boechat Soares; Francisco de Paula Neto; Agostinho Lopes de Souza
VOLUME DE MADEIRA EMPILHADA
1. Volume estéreo
O volume de madeira de uma pilha, obtido por meio da multiplicação das suas dimensões, define o chamado volume estéreo.
Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), o volume estéreo é o volume de uma pilha de madeira roliça, em que, além do volume sólido de madeira, estão incluídos os espaços vazios normais entre as toras. Assim, um estéreo consiste na quantidade de madeira contida em uma pilha de 1,0 m x 1,0 m x 1,0 m, cujas toras variam em área seccional, curvatura e forma, o que permite a existência de muitos espaços na pilha, não ocupados por madeira.
Segundo a Portaria do INMETRO n.º 130, de 7 de dezembro de 1999, o volume de madeira empilhada, em estéreo (st), pode ser obtido genericamente pela seguinte expressão:
em que: V = volume da pilha, em st; x = comprimento das toras, em m; y = comprimento da pilha, em m; e z = altura da pilha, em m.
Quando a pilha de madeira apresentar variação em sua altura e as toras não possuirem o mesmo comprimento, o volume em estéreo da pilha deve ser obtido utilizando-se a média destas medidas.
2. Fator de empilhamento
O fator de empilhamento (fe) é um fator para a conversão do volume estéreo em volume sólido, obtido através das seguintes expressões:
O volume sólido pode ser o volume com casca ou sem casca, obtido através do procedimento da cubagem rigorosa, fornecendo, assim, o fator de empilhamento com ou sem casca, respectivamente.
Conhecendo o volume em estéreo de uma pilha pela multiplicação das suas dimensões, o volume sólido de madeira da pilha com ou sem casca será obtido por:
ou
tal que fe é um fator de empilhamento médio apropriado para a espécie e as condições do local.
Frequentemente, fatores de empilhamentos médios são utilizados na conversão do volume de uma pilha em estéreo para metro cúbico. No entanto, vários aspectos afetam o empilhamento da madeira, por exemplo: o diâmetro e o comprimento da tora, a espessura da casca, a forma de empilhamento (manual ou mecanizado), o tempo que a madeira empilhada permanece no campo na forma de tora, entre outros. Assim, a utilização de um único fator como constante de conversão do volume estéreo de madeira em volume sólido, em condições muito variadas de empilhamento, constitui-se em uma justificada preocupação. Dessa forma, fatores de empilhamento médios devem ser utilizados com critério para que possam proporcionar estimativas precisas do volume real de madeira.
Em inventários florestais, a determinação do fator de empilhamento (fe) pelo método tradicional baseia-se na derrubada e seccionamento das árvores contidas em parcelas representativas das condições da floresta (idade, espaçamento, qualidade do local etc.), com a finalidade de obter o volume sólido de madeira (m3) e o volume empilhado (st). Esquematicamente, tem-se a seguinte sequência para a determinação do fator de empilhamento por parcela:
De posse dos fatores de empilhamento obtidos em diferentes parcelas, pode-se obter o fator de empilhamento médio do povoamento pelo cálculo da média aritmética dos fatores.
Como exemplo de fatores de empilhamento para Eucalyptus grandis, tem-se o trabalho de Rezende (1988), no qual se realizou um estudo para analisar o comportamento dos fatores de empilhamento por classe de DAP e para diferentes espaçamentos (Quadro 5.1).
Quadro 5.1 - Número de árvores (N.º) e fatores de empilhamento com casca (fec/c) observados, por classe de DAP, nos espaçamentos 1 x 1 m, 3 x 1 m e 3 x 2 m
Em trabalho cujo propósito foi contribuir para o maior conhecimento a respeito do comportamento de algumas espécies de eucalipto no Brasil, permitindo a melhor seleção de espécies para plantio e indicações sobre características silviculturais, sobre manejo e uso final, Guimarães et al. (1983) apresentaram algumas estimativas sobre fatores de empilhamento (Quadro 5.2).
Quadro 5.2 - Fator de empilhamento para diferentes espécies de eucalipto
Além do método tradicional de obtenção do fator de empilhamento, através da medição das dimensões das pilhas e da cubagem das toras que as compõe, outros métodos têm sido empregados para determinar o volume de madeira empilhada, como por exemplo o software Digitora (SOARES et al, 2003).
O Digitora utiliza uma rede de pontos eqüidistantes distribuídos sobre uma fotografia digital para determinar o fator de empilhamento (Figura 5.1). O volume sólido de madeira (m3) de uma pilha é obtido multiplicando-se o volume empilhado pelo fator de empilhamento obtido.
Figura 5.1 – Esquema de distribuição da rede de pontos sobre a pilha de madeira.
3. Exercício
Em uma pilha de madeira de dimensões de 2,0 m x 3,0 m x 1,5 m, utilizou-se um fator de empilhamento igual a 0,60 para obter o volume sólido de madeira (m3). Assim, pergunta-se:
a) Qual o volume sólido de madeira da pilha?
b) Considerando que a pilha de madeira continha ¼ de espaços vazios, qual seria o volume sólido de madeira?
Resposta:
a)
V = 2,0 x 3,0 x 1,5 x 0,6 = 5,4 m3
b)
V = 2,0 x 3,0 x 1,5 x (3/4) = 6,75 m3
4. Referências Bibliográficas
GUIMARÃES, D.P. et al. Avaliação silvicultural, dendrométrica e tecnológica de espécies de Eucalyptus. Planaltina, EMBRAPA – CPAC. Boletim de Pesquisa, n. 20. 73 p. 1983.
REZENDE, A.V. Análise dos métodos de estimação do volume sólido da madeira e do comportamento do fator de empilhamento para Eucalyptus grandis. Viçosa: MG. UFV, 1988. 131 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
SOARES, C.P.B.; RIBEIRO, J.C.; NASCIMENTO FILHO, M.B.; RIBEIRO, J.C.L Determinação de fatores de empilhamento através de fotografias digitais. Revista Árvore, Viçosa, v. 27, n. 4, p. 473-479, 2003.